sábado, 26 de setembro de 2009


A trajetória de Mafalda abrange o período compreendido entre os anos 1964 e 1973, em três publicações: “Primera Plana”, “El Mundo” e “Siete Dias Ilustrados”. Bem antes da despedida oficial da tira, em junho de 1973, Quino — e ninguém mais do que ele — percebeu que eslava esgotado e não poderia insistir sem se repetir.

Ao contrário de outros colegas seus — como Schullz, criador de “Peanuts” —, que fizeram as tiras sobreviverem apoiando-se num grupo de roteiristas e desenhistas, Quino sempre resistiu a perder o contato pessoal com sua criação. Nunca aceitou adotar essa modalidade de trabalho, por considerá-la inadequada a seu estilo, e também nunca utilizou um mecanismo particular de trabalho. Antes que alguém o percebesse, Quino soube que Mafalda havia cumprido sua missão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Alegria e Serpentina




Todo o dia chego em casa
Encontro eles com regularidade, crio fantasias e leio meu texto em provençal
Troco de roupa, tomo meu banho e faço minha comida
Eles fazem da minha vida um mundo de alegrias e carnaval

Coralie Clément toca no meu player digital, que bela
Me escondo atrás de rabiscos e livros para conter minha ansiedade ansestral
Fotos de rostos e moços, de caras e bocas, sorrisos e arrepios pintam minha tela
São eles que aparecem na imagem do meu cibernético vitral

Ao ver tais imagens, tais fotos batidas, aqueles pequenos retratos
Me vejo no meio de tanta gente cheia de vida, cheia de vontades
Quase não percebo quando estou com eles, por ali,por aqui, nos teatros
Não cabe dentro de mim a emoção de estar ao lado deles

Dizem que fazer parte dela é uma alegria
De vez em quando até distância quero deles, uma tentação
Formaram meu caráter desde criança com serpentina e fantasia
E me protegem das escolhas erradas, tentadoras e de frutração

Participam ativamente da minha vida, das minhas dúvidas e dos meus anseios
Por vezes, de tanto me ajudar, são chatos
Me abraçam e me acolhem nas gargalhadas e nas risadas
Mas por mero caso do descaso, eles acabam sendo sensatos

Pergunte-se quem são:
A mão que segura, o braço que fortifica, o acorde que afaga, a palavra que eu escuto
A mãe que ama, o irmão que acolhe, a cunha que toca, o pai sábio
São eles senhores, a razão do entender o lado humano de uma vida

Como um carnaval que não tem fim
É a alegria, é a serpentina, é a maestria
Uma jornada de vida que sempre diz sim
Essa é minha família

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ele me olhou por 24 anos

Ele me olhou por 24 anos
Causando-me arrepio e medo
parecia em si mesmo, desumano
Quando naquela noite de junho me disse que veio

Não entendi ao certo sua vinda
Eu não o senti chegando
Eu não entendi em nada, simplesmente em nada
Só vi que ele veio, só vi ele se aproximando

Ouso acreditar que sua vinda foi para me esfregar os olhos
Me mostrar que a vida vivida não era a minha vida vivida
Era vida deles vivida, a vida dos outros vivida

Sobreviver nesse círculo, sobreviver na roda que roda
No som de uma melodia que não termina
Nos traços de um desenho que não desbota
Nas drogas de qualquer anfetamina

Me mostrou que esse moço (quiçá, até uma moça) não veio para abalar
Nem tampouco para me embriagar ou me fazer esquecer
Desabotoou minha camisa e me disse, cheguei pra te amar
Isso não! Só quero alguém que me mostre o lado humano do meu ser, apenas isso

Ele começou a escrever sua história em mim com um lápis
As suas formas foram regrando e cercando o meu viver
Ele se apresentou como AIDS
Mas nunca me deixou desaprender que viver é só sobreviver

Começou a ser um vivente do meu sangue
Um vivente da minha carne, da minha alma e dos meus medos
Um vivente embriagado, infiltrado, palpitante e inerente
Um vivente que sorri quando eu acordo e que morre quando eu esqueço
Não sou eu que sobrevivo a ele
Ele sobrevive por mim
Sorte dele ter me encontrado
Sorte minha te-lo entendido
Sorte minha te-lo aceitado
Sorte minha te-lo amordaçado dentro de mim
Sorte

Um amigo querido

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Adriana Calcanhoto exalta universo português


Apresentado apenas em Lisboa e Paris, o show “Qualquer coisa de intermédio” fez sua estreia no Brasil na noite dessa terça-feira pelo 16º Porto Alegre em Cena. No palco do Theatro São Pedro, Adriana Calcanhoto emprestou a suavidade de sua voz para interpretar músicas e poesias portuguesas ao velho estilo do fado.

Ao lado da cantora lusitana Mísia, Adriana celebrou o universo cultural português interpretando obras de Luís de Camões, Fernando Pessoa, Arnaut Daniel, Amália Rodrigues e a sempre cultuada Carmem Miranda. Até mesmo o nome da montagem musical se refere a um poema português de Mário de Sá Carneiro (1890-1916) que traz em sua letra o seguinte trecho: “Eu não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio: pilar da ponte de tédio que vai de mim para o outro”.

Adriana confessou ao público que estava com certo medo de apresentar novamente esse show. Isso por que, a última vez que ela o apresentou foi no ano de 2007 em Paris. De lá para cá não houve mais sequer ensaios do repertório.



― Esse é um concerto muito especial que a gente fez de encomenda para a fundação Gulbenkian de Paris, que nos convidou para fazer uma noite única com um repertório de língua portuguesa. A gente ensaiou loucamente, meses... pensando as canções, trabalhando com o Eucanaã Ferraz, que é o diretor do espetáculo, trabalhando entre nós, para fazer uma noite única. Foi uma loucura! - disse Adriana aos espectadores que lotaram o Theatro São Pedro.

Envolvida com um novo trabalho musical, Adriana disse que é um prazer dar um tempo no projeto para participar da 16ª edição Porto Alegre em Cena.

― A gente teve o privilégio de receber o convite do Em Cena, do Luciano Alabarse, para voltar a cantar dois anos depois com esse repertório, que é um presente para a gente poder tocar mais uma vez - comemora Adriana.